Jornal da Record

Vitórias Contra o Câncer

A equipe do JR passou uma semana dentro do hospital AC Camargo em São Paulo

O jornal acompanhou pesquisas que podem representar a cura do câncer e a angustia dos pacientes na hora do diagnóstico.

Não perca, a partir de segunda (16), no Jornal da Record!

* Meu depoimento exibido hoje, terça-feira(17/01/2012):




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Revista Época Negócios

Complementando a reportagem sobre o hospital A.C. Camargo, Época NEGÓCIOS conversou com três pacientes que foram tratados na Instituição. Neste vídeo eles contam como descobriram o câncer, como chegaram ao A.C. Camargo, como foi o tratamento e como estão hoje.






Matéria na Íntegra





Jornal A Tribuna



Vivendo Apaixonadamente

"Eu amo a vida. Se Deus quiser me levar, tudo bem. Mas se me deixar ficar, eu prefiro. Aqui está tão bom..."

O maestro André Infanti, com o mesmo tumor raro que tinha o ex-vice-presidente José Alencar, mostra que a fé, o otimismo e o amor podem ser mais fortes que a doença

Por Viviane Pereira

"Garota, eu vou me casar com você". Marilia Mussi Santos achou interessante a frase de André Infanti, que acabara de conhecer.
O cenário era digno de filme de cinema, ideal para o início de uma história de amor; uma festa no Terraço Itália, numa noite estrelada em setembro de 1980.
"Sobe", ele disse, chamando a moça para ver algo no andar de cima. Ela se recusou. "Sobe", insistiu. Na terceira vez, ela aceitou. Ao piano, o maestro tocou Chopin. Encantada, Marilia ainda recebeu das mãos de Infanti uma escala musical onde havia uma mensagem com notas: "Fa-La-Si-Mi Amas".
O golpe final na resistência da desconhecida foi dado quando o maitre chegou com dez dúzias de rosas, encomendadas pelo músico.
Amor à primeira vista? Talvez sim, talvez não. "Ele disse que já tinha me visto, em sonhos, andando pela praia". conta a santista que arrebatou o coração do maestro paulistano.
Vivendo entre melodias, Infanti não poupou poesia para conquistar a amada. "Estou procurando a estrela do céu, quando a estrela principal está do meu lado".
Cinco meses depois, em 14 de fevereiro de 1981, casaram e se estabeleceram em Santos.

Escala Musical

A música, que abriu as portas do coração de Marilia, é a essência da vida do maestro. Ele se recorda da infância musical ouvindo as canções entoadas pela mãe, uma andaluza, em espanhol. A emoção das lembranças agita o coração e solta a voz de barítono.
"Morena, tu ojos me quierem"("Morena, seus olhos me querem").
Infanti estava no início do primeiro ano quando levantou a mão à pergunta da professora Jurema sobre quem gostava de música. No dia seguinte, um amigo levou violão, outro um pandeiro e uma colega foi com seu acordeão. "Isso é pra você", disse Jurema, entregando uma gaitinha do comprimento de um dedo ao menino André. Na outra aula, o garoto já tocava algumas músicas.
Foi o primeiro instrumento de muitos: acordeão, piano, teclado, violão. Com facilidade para aprender, logo virou professor e ensinava os colegas e alunos mais velhos. Não demorou para fundar o Conservatório Musical Infanti, onde ensinou grandes talento, como o infectologista David Uip e o maestro Aparecido João Esotco. "A Gretchen também estudou canto comigo, quando estava nas Melindrosas", lembra. Roberto Carlos foi o outro aluno ilustre, quando fazia parte do RCTrio. "Ele precisava do registro na Ordem dos Músicos do Brasil para cantar na TV".
Infanti fez grandes concertos em São Paulo, no Interior e no Litoral. Na TV Record, ganhou várias vezes entre os melhores do ano. Em Santos, foi regente da Orquestra de Câmara. E continua aumentando seu currículo fazendo suas apresentações musicais.

Dando o tom de sua vida

Às vezes, André Infanti fala. Outras vezes, canta, dando o tom musical à entrevista. A voz forte não deixa transparecer que esse homem de 73 anos teve retirada uma parte de seu diafragma.
A alegria com que encara a vida também não dá a menor idéia de que precisou tirar também um rim, três quartos do intestino e parte do pâncreas, do intestino grosso e o baço. Tudo isso é fruto de um lipossarcoma do retroperitônio, tumor raro na região abdominal, perto dos rins. É a mesma doença do ex-vice-presidente José Alencar.
Além da doença e do mesmo médico, Infanti tem em comum com Alencar a garra, o otimismo e a paixão por viver.
"Você tem menos de um mês de vida". A sentença abalou a emoção de André Infanti, mas não sua fé. O diaginóstico foi dado em 1987, depois de três anos de um tratamento errôneo de gastrite.
"Quando recebeu a notícia, ele ia chorando na rua", recorda Marilia. A maior tristeza era, de longe, o medo de não ver a filha crescer.
Na luta, que dura 24 anos, fez 27 cirurgias. A preocupação da esposa em buscar o tratamento correto e a transferência para o Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, foram essenciais para tantas vitórias que começou na primeira operação, em que foi retirado um tumor de cinco quilos.
"Vendemos um carro zero-quilômetro para pagar", afirma Marilia. A partir da segunda, a informação do cirurgião-oncologista Ademar Lopes de que o tratamento poderia ser feito pelo Sistema Único de Saúde(SUS) tornou a continuação viável.
Houve cirurgias de dez, 12, 15 horas. Ainda se lembra do desespero que sentiu há uns cinco anos, quando tirou o rim necrosado. Estava com o irmão Jenior Infanti no quarto quando vomitou muita bilis em um balde. "Acho que não vou sair dessa" chegou a pensar. Mas quando saiu de uma operação, fraco, magrinho, mostra sua força. "As pessoas dizem: 'Esse não vai vingar'. Mas eu olho para o céu e digo a Deus que vou viver".
Mais difícil foi quando a dor era tanta que não lhe permitia levantar para reger. Os bons momentos foram muitos, como o que viveu no hospital, em uma das tantas internações pós-cirurgicas.
Dessa vez, chegou a ficar 51 dias internado. Era um domingo, estava chateado na cama, com dreno e soro. As enfermeiras o chamaram para ver uma orquestra de câmara se apresentar. Infanti olhava pelo canto da porta quando a maestrina, búlgara, o convidou a reger.
"Não estou em condições", chegou a responder, mostrando o soro, o dreno, o avental. As enfermeiras se apressaram em fechar o avental atrás com esparadrapos, ajudaram a carregar o dreno e, logo, o maestro estava no meio da apresentação.
Quando a soprano começou a cantar Berceuse, de Brahms, automaticamente Infanti passou a fazer o contraponto, acompanhando a canção "Eu nem sabia onde eu estava".
Ali mesmo no hospital, com soro e dreno, o maestro cantou, regeu e ainda improvisou e treinou um coral de enfermeiras.
Essa é a essência que o move e o faz sobreviver às dores, à cirurgia e até mesmo ao tumor que tem ao lado da veia aorta, "Se tirar, ele morre. Mas tá quieto lá", avisa a esposa.
Viver apaixonadamente é o segredo da vida deste maestro, apaixonado pela música, pela esposa e pela filha Mariana Mussi Santos Infanti, de 27 anos, de quem tem enorme orgulho "Ela tem jeito pra música".
Com tanta resistência, o cirurgião avisa que Infanti vai morrer de velho "Velho eu já estou. Mas vou ver minha filha casar e meus netos".


Revista Época

Dinheiro compra saúde?

por Cristiane Segatto

  arquivo pessoal

ANDRÉ INFANTI
O maestro enfrenta há 24 anos um câncer semelhante ao que matou José Alencar

[...]Nesta semana, em que pensei tanto em Alencar, tive o prazer de conversar com outro lutador. É o maestro André Infanti, um paulistano de 73 anos que mora em Santos. Nos anos 60, ele tinha um conservatório de música no Ipiranga. Deu aula para muitos músicos que se tornaram profissionais. Entre eles, o cantor Roberto Carlos, no tempo do RC Trio. Como Alencar, Infanti teve um sarcoma do retroperitônio. Em que ano? 1988.

Com todos os recursos que sua fortuna lhe proporcionou, Alencar viveu quatro anos desde a descoberta do sarcoma. Infanti vive 24 anos. Sempre se tratou pelo SUS. Quando começou a sentir dores abdominais, os médicos que o atenderam em Santos acharam que ele tivesse gastrite. Quando Infanti foi finalmente levado para a sala de cirurgia, os médicos viram o sarcoma e decidiram não extraí-lo. Suturaram o abdome e decretaram que Infanti teria apenas um mês de vida.

Infanti foi parar no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Foi operado pelo cirurgião Fernando Gentil, que morreu pouco tempo depois. O sarcoma voltou inúmeras vezes e, desde então, Infanti foi operado pelo cirurgião Ademar Lopes, que era assistente de Gentil.

Lopes decidiu tratar Infanti apenas com cirurgia. Até hoje, foram 27. Nada de quimioterapia ou qualquer outro recurso. “O sarcoma parece uma trepadeira. Vai tomando conta de tudo”, diz Infanti. “Na primeira cirurgia, foi possível retirar o tumor inteiro”, diz Ademar Lopes. “Mesmo quando o tumor é retirado completamente, ele volta em cerca de 60% dos casos. Quando o câncer está alojado muito perto da coluna, o cirurgião não pode extrair mais tecido para deixar uma boa margem de segurança. Por isso, o tumor volta.”

Infanti acompanhou a dor de Alencar de um ponto de vista peculiar. “Temos a mesma doença, via o sofrimento dele e pensava que sou um privilegiado. Digo para todo mundo que sempre fui muito bem atendido. O SUS existe”, diz.

Em uma de suas internações, Infanti estava triste, sem vontade de sair da cama. A equipe queria que ele se levantasse. Alguém teve a ideia de chamar até o quarto os músicos que, por acaso, haviam feito uma apresentação no hospital. Os músicos fizeram fila indiana no corredor e chamaram Infanti na porta do quarto. “Era uma orquestra linda que me chamava para regê-la”, diz.“Regi a abertura de Aida, de Giuseppe Verdi. Aquilo me levantou.”

Com essa coluna estou querendo dizer que ser rico é ruim? Que bom mesmo é se tratar pelo SUS? Não. Estou apenas chamando a atenção para o fato de que coisas que repetimos como se fossem verdades absolutas podem ser mais complexas do que parecem. O sucesso do tratamento do câncer envolve múltiplas questões (características genéticas de cada paciente, capacidade individual de suportar determinadas medidas agressivas, acesso a drogas importantes, planejamento da cirurgia e da radioterapia etc). O sucesso depende, sempre, de difíceis decisões. Boas e más decisões são tomadas o tempo todo em qualquer lugar.

Leia a matéria completa em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI222894-15230,00-DINHEIRO+COMPRA+SAUDE.html

Folha de São Paulo


60 anos de música, 23 com câncer

O maestro André Infanti, 71, segue regendo enquanto enfrenta a doença que já o levou 23 vezes à mesa de cirurgia e sobre a qual falou apenas a familiares mais próximos; "gosto é de alegria", explica
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO


Como de costume, o maestro colocou seu smoking. Regeu durante quatro horas um concerto clássico, com orquestra de câmara e coral. O evento era em uma igreja de Santos, onde mora. A apoteose foi com a "Aleluia" de Handel, "a coisa mais linda", conta. Empolgou-se, como sempre. "Eu sinto a música. Se estou regendo Mozart, parece que ele está comigo", descreve. Quando terminou, a parte interna do paletó estava tingida de sangue.
André Infanti, 71, tinha passado por uma cirurgia complexa três dias antes -uma das 23 às quais se submeteu nos últimos 23 anos. Ainda tinha os pontos e estava cheio de drenos. Passou mal no dia seguinte, mas sentiu-se feliz por ter cumprido o compromisso e feito o que gosta. Não contou da sua doença a ninguém.
De fato, ele não gosta de falar sobre o problema -um lipossarcoma no retroperitônio, tumor raro na região abdominal, perto dos rins, a mesma doença do vice-presidente, José Alencar. Mesmo tendo descoberto o problema há mais de 20 anos, muitos dos conhecidos de André não sabem dela. "Contei só para minha mulher, minha filha, meus irmãos. Eu falo de tudo, mas procuro não falar de doença. Não gosto de causar sofrimento nas pessoas, eu gosto é de alegria", justifica.
E é assim, com otimismo, que ele lida com a realidade de seu câncer. O maestro conta que tinha esse espírito desde o início, quando descobriu o problema após ser tratado por três anos como tendo apenas uma gastrite. "Eu tinha muita febre, uma dor insuportável, não sabia nem onde estava. Mas sou guerreiro, aguentava", afirma.
Quando chegou ao hospital, o médico quis operá-lo no dia seguinte, pois o caso era grave. O tumor tinha seis quilos. Desde então, ele precisou se submeter a cirurgias, em média, uma vez por ano. "Essa doença parece uma trepadeira, que vai tomando conta do organismo", define ele. ""É como uma erva daninha", completa sua mulher, Marília Mussi dos Santos, 62, com quem é casado há 29 anos.
O diretor de cirurgia pélvica do Hospital A. C. Camargo, Ademar Lopes, que acompanha André, explica que o problema é que o tumor fica encostado em estruturas importantes, como a artéria aorta e a coluna.
"Por isso, não conseguimos retirar bastante tecido normal no contorno [por segurança], então a possibilidade de retorno é grande. Quando ele aparece na coxa, por exemplo, longe de órgãos nobres, conseguimos controlar melhor. É um tumor bastante grave, pelo tamanho e pela localização", afirma, completando que, no caso do maestro, a cirurgia é a melhor forma de tratamento.
As operações, em princípio pagas por ele e hoje custeadas pelo SUS, foram todas longas, de nove ou dez horas. "Saio todo encolhido, amarelo, magrinho. Quem olha fala: "Esse não vai vingar". Mas no segundo dia eu já estou dando a volta no quarteirão, passeio, visito outros doentes. Não me entrego."
Em muitos casos, foi necessário retirar algum órgão do corpo, que fora invadido pelo câncer. André ficou sem um dos rins, o baço, alguns músculos, três quartos do intestino e um pedaço do pâncreas.
Apesar de isso não prejudicar muito sua qualidade de vida, ele diz que tem algumas limitações. "No caso do intestino, tudo o que como a mais não me faz muito bem. Tenho que tomar muita água por ter apenas um rim, tomo de dois a três litros por dia. Se Deus nos fez com todos os órgãos, duas vistas, dois rins, quando tiram um nunca é como se tivesse os dois", afirma.
Mas ele ficou preocupado mesmo foi quando soube que perderia uma parte do diafragma. "Pensei que sentiria falta, pois, para reger, preciso falar, cantar para os meus alunos", explica. Surpreendentemente, a retirada não atrapalhou sua habilidade com o canto lírico. "Lógico que quando eu era moço meu timbre de voz era mais forte. Mas a cirurgia foi perfeita, continuo conseguindo cantar", afirma.

Música

Enquanto se recuperava de um dos procedimentos, uma orquestra se apresentou no hospital em que ele estava e, depois de ensaiar um contracanto na porta do quarto, para acompanhar a música, o maestro foi chamado para regê-la. "Eu estava com dreno em um monte de lugar e estava tão chateado, na cama, que não conseguia me levantar. Mas comecei a ouvir a música e aquilo me levantou, sabe?"
André chegou a ficar cinco anos sem trabalhar, pois não conseguia levantar os braços devido às cirurgias. "Mas agora está tudo normal, o que aparece eu faço. A música faz parte da minha vida. São mais de 60 anos, não adianta, eu vou morrer com ela."
O primeiro instrumento que o maestro ganhou foi uma gaita, de uma professora, quando tinha sete anos de idade. "No dia seguinte já tocava", lembra. Aos 14 anos, já estava regendo. Toca órgão, teclado, piano, contrabaixo, guitarra e acordeão -o instrumento no qual mais se destacou.
Foi diretor por 29 anos de um conservatório que levava seu nome, em São Paulo, e diz que já teve milhares de alunos. Timidamente, enquanto conversa com a repórter, vai desfilando o nome das pessoas para quem já deu aula: grandes talentos da música clássica, artistas populares, professores de conservatórios, médicos renomados e até o cantor Roberto Carlos, na época em que formava o grupo musical RC Trio.
A filha de André, Mariana, 26, também canta e toca vários instrumentos. Quando seu pai descobriu o câncer, ela tinha apenas quatro anos. Um médico chegou a dizer ao maestro que ele teria apenas mais um mês de vida. "Ele chorava porque achava que não veria a filha crescer", lembra Marília.
"A Mariana quer ir para São Paulo estudar cinema. Você precisa ver como ela canta: não dá uma nota para frente nem para trás", conta o pai, orgulhoso. "Vê-la crescer era meu maior sonho. E sei que ainda vou vê-la se casar e ter meus netos", garante."

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2401201001.htm

Momentos




Regência: André Infanti

Apresentação na Igreja do Embaré(Santos/SP) em meados dos anos 90. Exibido em emissoras locais. [Ripado de uma VHS]

Revista do Brasil

Marilia Mussi e André Infanti

Foto da edição de Setembro, da "Revista do Brasil". Minha esposa e eu!










http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/39